Fiscais fazem ‘vaquinha’ para conseguir chegar às barragens
Fiscais
fazem ‘vaquinha’ para conseguir chegar às barragens
Servidores da ANM denunciam falta de recursos; eles chegam a arcar
com vistorias
Depois da tragédia na barragem da
Vale, em Brumadinho, que até este domingo (10) havia deixado 165 mortos e 160
desaparecidos, o governo federal prometeu fazer um pente-fino nas estruturas em
todo país. Mas, em Minas Gerais, onde há o maior número de reservatórios de
mineração, faltam condições mínimas para isso. Os fiscais da Agência Nacional
de Mineração (ANM) estão tendo até que ratear o custo do diesel das
caminhonetes com dinheiro do próprio bolso. No popular, estão fazendo
“vaquinha” para conseguir chegar até as estruturas, sem qualquer previsão de
ressarcimento.
“A força-tarefa anunciada está
indo como dá. Porque nem dinheiro para combustível a ANM nacional nos enviou.
Nós é que estamos pagando o diesel para conseguir chegar até as barragens em
risco. E não sabemos quando vamos ter o dinheiro de volta”, conta um dos
profissionais, que pediu anonimato com medo de retaliação no emprego. A
reportagem ouviu três servidores que relataram muita dificuldade de manter as
atividades em recursos suficientes.
A situação está tão crítica que
os profissionais da ANM enviaram um abaixo-assinado ao governo federal pedindo
a doação de medidas urgentes. No documento, ao qual a reportagem teve acesso,
os profissionais que seriam os designados para atestar as condições das
barragens citam a dificuldade de chegar até Brumadinho no dia em que a barragem
I da mina de Córrego do Feijão se rompeu. “Enquanto Ibama foi um dos primeiros
a chegar à área da barragem logo após a ruptura, de helicóptero, para chegarmos
ao local, um colega especialista em recursos minerais teve que abastecer a
caminhonete utilizando recursos próprios para pagar o combustível, devido à
indisponibilidade de verba para esse fim na gerência regional de Minas Gerais”,
dizia o manifesto, entregue na última quinta-feira ao governo federal.
O documento denuncia o que os
servidores chamam de descaso dos órgãos federais. E a falta de combustível não
é o pior dos problemas enfrentados. Na unidade em Belo Horizonte, estão
disponíveis apenas cinco veículos para todas as atividades do órgão. “Todos
esses veículos já deveriam ter sido substituídos, tendo em vista o ano de
fabricação e a frequência de uso em situação adversa (estradas de terra). Eles
demandam manutenções constantes, que impedem que estejam disponíveis para as
viagens necessárias e, por isso, comprometem os trabalhos de fiscalização”,
aponta o documento.
Quando os carros estão
funcionando e têm gasolina, faltam motoristas. A instituição tem apenas quatro
condutores, sendo que dois estão na iminência de se aposentar, e os outros dois
são terceirizados e sequer são motoristas profissionais. “Nas vistorias, quando
não estamos com um motorista, temos que assumir a responsabilidade relativa ao
funcionamento, abastecimento e segurança dos veículos, e ainda pelos
equipamentos e processos minerários transportados”, afirmam os servidores, por
meio do manifesto.
Precarização compromete trabalho
Os fiscais
da Agência Nacional de Mineração (ANM) não têm nem os equipamentos básicos
necessários para realização do trabalho. São apenas três fiscais fixos, e mais
três que foram provisoriamente deslocados para essa função, para avaliar as
condições de segurança de 435 reservatórios de mineração em Minas Gerais.
“Os
instrumentos usados na fiscalização (GPS, Trena), bem como alguns dos
computadores e notebooks disponibilizados para Minas, são obsoletos e, devido
ao uso constante, sempre apresentam problemas. Como não há verba para conserto,
muitos estão sem condições de uso”, denunciam em abaixo-assinado enviado ao
governo. Até as fotos que embasam os relatórios são feitas dos celulares dos
técnicos. Procurada, a ANM não se pronunciou.
Sucateamento estrutural
Equipamentos
Os fiscais
da ANM não têm equipamentos necessários (uniformes, botas, perneiras de couro),
nem rádio fixo nas viaturas (para casos de emergências).
Prédio
A unidade em
BH teve reforma iniciada em 2010, que ainda não foi concluída. E o local sofre
com alagamentos quando chove, colocando em risco os processos minerários.
Defesa Civil avalia recursos
O chefe da
Defesa Civil nacional, coronel Alexandre Lucas, esteve neste domingo em
Brumadinho para avaliar quais recursos operacionais, como aeronaves e máquinas
de resgate, além de equipes de trabalho enviados pelo governo federal podem ser
desmobilizados para gerar eficiência nas operações realizadas no município
atingido pelo rompimento da barragem da Vale. “Tudo está sendo feito em comum
acordo com as coordenações de Estado e do município. Essa verificação faz parte
da gestão de desastres e é feita por objetivos. A partir do momento que você os
atinge, os recursos devem ser desmobilizados para otimizar a logística”,
explicou.
Segundo o
coronel, a intenção da visita também era manter o diálogo operacional com os
envolvidos nos trabalhos que chegam, nesta segunda-feira (11), ao 18º dia.
Segundo ele, se houver necessidade de usar recursos do governo federal que
estejam sendo aplicados em outros Estados, o remanejamento será feito. Ele
afastou qualquer possibilidade de retenção de apoio por parte da União. De
acordo com o militar, “em nenhum momento se está olhando economia de custo,
muito pelo contrário, a questão não é economizar. ”
O coronel
afirmou que mantém contato diário com o ministro do Desenvolvimento Regional,
Gustavo Canuto, e que há uma coordenação específica sobre Brumadinho entre os
demais ministros. “Converso com o Canuto todos os dias, repasso relatórios
diários. O assuunto é prioridade máxima no governo”, afirmou. (Bruno Mateus)
FONTE: O TEMPO